quarta-feira, 31 de julho de 2013

poema n° 7


O que é mexer-se por dentro,
Meu querido?
O que é a mão externa tocando
A dor por dentro?

Ah ouvidos esquivados no tempo,
Donde se alonga
Esta milonga na ponta dos dedos
E sem restos de medos?

O corpo se esfacela, alça-se em volteios
E nem sei do bem-querer...
Que ontem na mesa da cirurgia
Matei, matei, matei!

Ó parceiro que foste! – amor perdido:
Infinito.
Meu corpo dolorido
Infenso a tudo, meu deus, a todos!

Esta lembrança encravada
Que quase não cansa: perfura.
O amor que tinha:
Este meu corpo cortado.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

poema n° 6




Ai, cuidado! Ainda arde
Aquela ponta de seta envenenada,
Está cravada na ponta do pé.

Ando trôpega. Corto ruas e corredores a esmo.
Meus amigos me vêem e choram,
Reclamam da minha ardência.

É esta ponta de espinho enterrada!
Ma faz ladear o caminho
Que antes era em tua direção.


terça-feira, 9 de julho de 2013

poema n° 5





Dizes algo?
Não chamarás novamente meu nome?

Como o sol que morre
Nas coxilhas de Andaluzia,
Sussurras meu nome baixinho
E depois negas o abraço forte?

Meu coração é frágil...
Ó ingrata paixão de tortuosas orações!
Assim tu assassinas a vida
Que te insuflei naquele beijo
- quarta-feira, de madrugada,
E não chamarás novamente meu nome?

poema n° 4





Uma amiga me disse:
- há luz, a luz vai voltar...

Mas ao acordar esta manhã
Senti a chuvarada escura
- o sol, o sol brilhava, entretanto...

Não posso chamar Jesus,
Ele não conhece o coração de amor
Rompido, raivoso, solitário.

Ah, voltar à claridade do dia...
Se o amor retornasse,
Ah, minha amiga, amante da luz,
Quero encontrar a chuva benfazeja,
Tocar a nuvem graciosa outra vez.

O amor, esta dor,
Que reverbera todas as manhãs,
Queimá-la no perdão, desejo!
Imenso é o meu coração...

poema n° 3






Os meus cuidados de amor
Agora estão vazios
Foi-se-me a cor do dia.

Não há mais riquezas
Nem tudo o que eu poderia...
Um só caminho perdido.

Ninguém vai saber a distância
Do meu coração ao sonho
É recente o despertar.

Tão longe, o sol escorre tão lento
Pelo meu pesar,
Pelo meu descontentamento.


poema n° 2






Os punhados de dor,
Tenho-os sob a pele mascarados.

Carinho que me davas
Ao preparar a cama
Aquecer a roupa
Arrumar os chinelos.

Eu inventei um amor sem-fim.
Afinal, meus olhos só viam os teus.

Europa, porém, jamais será Brasil...

Sob minha pele crispada
Já pulsam ferozes outra vez
Os punhados de dores da vida.

poema n° 1



E tu me amarás amanhã?
Que pergunta tola... 
a noite que se confunde com o sol
Já marcou minha desesperança.

Os tempos passam na pergunta corajosa
- tu me amarás amanhã?
Amanhã, meu amor, ainda me amarás?
Estarei dolorida, encarquilhada, 
serei um punhado de pó feito do barro 
(que secou),
Estarei amordaçada nas palavras de amor
(que não ouvirás),
Estarei morta no fim do meio-dia.

Mesmo assim, uma desesperada ideia:
Amanhã, quem sabe, ainda me amarás...

Ah, os contornos do nosso amor...
Éramos duas almas completas
E nem o Atlântico era capaz.
- eu te amo com a força dos mares!
(o sussurro que eu ouvia...)
O amor, dizias entre beijos,
O doce amor que nos enlaça
Flutua mais alto do que as estrelas...

Mas veio o mau gênio,
Sempre o mal que não tem nome definido,
E fez de nós o que quis.
Ai, a força desta maré!

Atlântico que tanto amei,
Como fazes isso comigo?
Tuas águas salgadas nos crispam os ouvidos
Estamos encerradas em cada lado teu.

Olho o relógio colorido de Dali,
Mas as horas já não me marcam no mundo:
Estou no passado.

Chorar é desespero. Tenho vida, grito: tenho vida!
Tenho vida pequena sem ti,
A vida que perdi.