quarta-feira, 5 de março de 2014

a flor rubra



Escondida sob a folhagem verde
exuberante
da corticeira,
um pouco acima da lâmina macia do banhado de turvas 
                                                        [águas outonais,
repousa,
aérea, misteriosa, altiva,
indiferente a tudo o que se diga,       
a flor rubra dos meus desejos.             

Não é inatingível, mas longínqua
a rubra flor que desejo. No verde da ramagem
mais sangue se vê de sua cor.
E alguns riscados brancos, sutis
correm-lhe por dentro
das pétalas não sedosas, mas cheirosas.
Que cheiro, que nada! Isso é imaginação!
                  
O que esta rubra flor, imensamente rubra flor 
                                            [da corticeira,
 me oferta, delicadamente,
é sua carne vermelha, solitária,
entre o céu quase azul e o verde
quase árvore.
                            
(o que jaz sob ela,
o marrom escuro do tronco,
as rugosas partes de seu corpo enrijecido
pela terra negra e pegajosa
também fazem a sua beleza, um encantamento
que invade meus olhos tontos de tanta sofreguidão).








quinta-feira, 26 de setembro de 2013

poema n° 10



Um cachorro costumava saltar as pequenas lagoas do pátio
Onde morava
O cão e sua dona.

O cão e sua dona muitas vezes pela manhã redonda
Escondiam-se um do outro
No amor inexplicável.

No amor inexplicável indissoluto vibrante
A vida corria solta generosa
No peito do cão nos olhos da dona.

Mas um dia turvou-se-lhe a visão
E o peito do cão repentinamente estacou:
Ah dor tremenda! A dor horrenda!

A dona sem olhos, o cão sem peito
E o assassino brutal
Passeando suas ignomínias.