domingo, 20 de maio de 2012

poema n° 4



                                   IV



E os olivos desfolhados
Só se lhes vê o tubo branco
Por onde – coitados – erguem-se aos céus
- os céus de Espanha. 


Estão dispostos, os olivos,
Ao longo do tortuoso caminho
Entre Córdoba e Granada,
Entre mim ali e acolá. 


São pontas de folhas secas
Quase sem vigor
Ausentes da ensolação
Quase, dos pingos da chuva 


Pois os olivos – pobres – são
Torcidos, submetidos
Ao rigor da forma
Que o agricultor deseja 


- e dará seus frutos perfeitos?
Entubada a planta,
como poderá ser aquilo
para o que sabe ser?

poema n° 1


                                   I



Os céus de Espanha não!
Não a tantos céus de Espanha...

 Somente a lua de Córdoba
As gentes de Córdoba
Os naranjos de Córdoba

Terra e sol
Para a viajante nauseada de tantas lonjuras
A viajante calma
Sob os céus de Córdoba...



quarta-feira, 9 de maio de 2012

o lápis




     [este poema foi escrito para Aimée, e consta da série "poesia vária" ainda inacabada]



o traço do lápis te escapa
e tu ainda não sabes
como é eterno o traço negro do lápis!


pois  no debuxo que traças
entre dedos e palavras
soltam-se os espaços largos
em tuas imagens de mundo.


e se acaso te equivocas
entre uma idéia, uma cor,
aquela música que ouvias,
teus sentimentos de amor...
o lápis já na folha correu.


te apressas, eu sei, antes
 que o sol escalde os desejos;
ordenas, minha amiga indômita,
a extinção das marcas do teu sentir –
mas não podes, a borracha que usas
mais aclara teus segredos.
 

vê, no papel de lápis apagado,
entre os vincos do teu borrado,
lá no fundo da página branca,
restam traços marcados no tempo
e tu não podes romper as barreiras
que um cristalino de carbono
enodoou na vida que te refaz.




domingo, 6 de maio de 2012

a porta é verde



[Fernando Botero, leitora]

             A porta é verde 

Oh meu deus! Minha sensualidade...
Porém a tristeza em meus olhos quase cerrados
Quase cansados de tanto ler
Exortam à alma: - saia de mim!
Abusa de minhas carnes
Que quase não cabem em si.


A porta é verde
O livro é verde
Porém a parede é no contragosto
Feita de um alaranjado em cruz
E dentro das cruzes, pequenas,
Reencontro as palavras poéticas
Fugidas do pequeno volume
Em minha mão esquerda.


Ah meu deus esquecido de mim...
Só o livro me recebe
Só estas folhas distribuídas ao meio
Me sabem.


a poltrona verde


[Hotel room (1931), de Edward Hopper (1882-1967) – Estados Unidos]

A poltrona verde


busco interminavelmente
a façanha de compreender:
o cansaço me arqueia o corpo
 e eu só vejo no contrapelo
a poltrona verde que descansa.


o missal


                O missal

Eu leio como se fosse escondida
Dos ardis, dos delicados desejos.

Meu livro é pequeno
Não é de sonetos;

O vermelho da borda das folhas
Não marca meu coração...

Ele se dobra – o vermelho das folhas –
Às carícias de meus dedos afilados.

É um missal que trago à direita?
É um missal que socorre minha postura?


sábado, 5 de maio de 2012

poemas V













poemas IV











poemas III







poemas II








poemas










primeira pessoa - poemas

o livro "primeira pessoa" é minha primeira publicação solo;  de 1986, foi editado em uma tipografia com as antigas caixinhas de letras, com a composição inteiramente manual; o papel é pardo; fiz questão de manter um formato e uma confecção artesanal; daí vem também a página em branco ao lado de cada poema, cuja idéia é deixar espaço para que o leitor rabisque o que queira; este livro foi dedicado à maria tereza selistre, professora de teoria literária e que teve muita importância na minha formação.
os poemas foram fotografados para o blog; é que na época deste livro (1986), ainda não havia computadores (como o tempo vai rápido!...), e não me restou outro modo mais prático de inserir os poemas.





sexta-feira, 4 de maio de 2012

montanha nevada


                                            (para Vivi)


da morte: apenas o som
que há no cume da montanha nevada.

observo-a com a intimidade
de tê-la amado no mundo eterno.

ah montanha nevada...
à luz da noite ... te devolvo
as marcas do meu coração.

ergo os braços
agarro a vontade
e grito e grito em seu semblante
- que venhas, que acaricies
minhas faces já embevecidas.

a montanha nevada me invade
os olhos, o peito, os intestinos:
sou a montanha nevada.

morro como quem nunca esteve aqui...