[este poema requer uma foto do antigo pelourinho, hoje docas do mercado]
Pela manhã bem cedinho
O ar se encapela como se fosse água ventosa.
Mar de dentro – quase o mar de dentro!
Canal que acessa o cais
Da cidade à beira do caos.
Ouve-se o pescador em sua pressa matinal:
Tainha gorda, linguado, camarão!
O rumor dos passos abafados na água que vem do gelo...
Encontrões de ombros pesados
Nas galerias de gentes que se formam
Tão logo atracam os caícos abarrotados
De pescado fresco da noite...
E o antigo pelourinho ressurge
Na memória perdida dos riograndinos:
- esta negra tem bons dentes!
- o mais preto, o mais escuro, o mais negro!
Mas sempre se perguntam os mais jovens
Se ainda haverá alvorecer limpo
Para a escravaria nas amarras no Pelourinho...
Passado um pouco do meio dia
O vozerio arrefece e entristece
Como a calmaria dos temporais anunciados
Mar de dentro – quase o mar de dentro!
O tempo que é história não cala
Porque a vida sempre lhe serve e salva...